sexta-feira, 15 de julho de 2011

Executivos: falhas


Pesquisa revela principais falhas dos executivos brasileiros

RIO - Comandantes na direção de um país emergente e de grande potencial, mas ainda cheios de defeitos. Pesquisa realizada recentemente pela Enora Leaders, empresa de formação de executivos e desenvolvimento de lideranças, revelou as principais falhas dos executivos brasileiros. São elas: a falta de profissionalismo nas relações, a falta de habilidade analítica e no planejamento e execução de projetos e as dificuldades com negociação e inovação. Falhas que não necessariamente impedem a concretização de grandes negócios, mas que podem atrapalhar o bom andamento do cotidiano empresarial.

Para o estudo foram ouvidos, durante o segundo semestre de 2010 e o primeiro de 2011, diretores e executivos de 200 empresas clientes da instituição, que têm na conta nomes como Ambev, Camargo Côrrea, EMS, Honda, Samsung, Elektro e CPFL. O corpo de pesquisa foi formado por mais de 50 professores, todos com formação e vivência de negócios no exterior.
Sócio e fundador da Enora Leaders, João Marcelo Furlan, que também liderou a pesquisa, remete à história do Brasil para explicar porque existem as falhas. Segundo o consultor, a barreira cultural e também de idioma fizeram com que o país passe muitas décadas isolado do restante do mundo, inclusive em termos de negócio.

A criação das primeiras organizações remetem à metrópole portuguesa. Este movimento, desde a colonização, deixou vícios enraizados até hoje em nossa cultura, como por exemplo, a falta de planejamento - comenta.

Furlan aproveita a deixa para lembrar da teoria do sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, que apontava a falta de planejamento como uma característica lusitana, tendo inclusive definido aquele povo como "semeadores" - que jogavam as sementes para que crescessem à própria sorte, em detrimento dos espanhóis, a quem ele chamou de "ladrilhadores", com maior planejamento e organização para realizar seu ofício.

A solução para as falhas apontadas seria importante para o Brasil tanto economicamente quanto politicamente. Para Furlan, a melhoria levaria a um sucesso maior das organizações em sua "empregabilidade" global, ou seja, na atração de novos projetos ao país, como fábricas e novos modelos de produtos ou negócios. Por acreditar se tratarem de falhas provenientes da cultura brasileira, no entanto, o consultor é um pouco cético quanto à capacidade de corrigir os defeitos em curto prazo. Uma mudança nas próprias crenças se torna necessária. O local para isso ocorrer, diz ele, é dentro do ambiente de trabalho.

As equipes lideradas pelo executivo necessitam ser constantemente comunicadas, treinadas e reconhecidas por participar do processo de transformação. Ou seja, para efetivar esta mudança, as pessoas precisam saber para onde a empresa quer ir, e serem submetidas a sessões para auxiliá-las a desenvolverem novas competências ao longo do tempo. Ao alcançar os resultados, precisam ser recompensadas por isto - aconselha.

Furlan garante que a situação tem mudado, mesmo que lentamente, mas que, apesar dos executivos estarem antenados às melhores práticas mundiais, ainda há lacunas que os deixam para trás em alguns requisitos.

Notamos a ausência frequente de algumas habilidades e competências que podem ser fundamentais na gestão e realização de projetos. Sem esquecer que o brasileiro prima pela criatividade e flexibilidade, é preciso notar que essas lacunas existem e precisam ser sanadas - afirma.

Principais falhas, segundo o consultor João Marcelo Furlan:

Profissionalismo nas relações: "O brasileiro é muito voltado para o relacionamento cordial e paternalista, deixando o profissionalismo de lado. Quando um técnico é promovido a uma posição de liderança, as amizades não são esquecidas em momentos de avaliação ou decisão. Quando o novo líder emergiu do chão de fábrica, essa característica é ainda mais forte".

Negociação: "O executivo brasileiro se considera confiável, porém tem dificuldades em confiar em quem está do outro lado. Isso impede a negociação integrativa, em que ambas as partes buscam tirar o maior proveito possível da relação empresarial. Além disso, o brasileiro busca o ganho imediato, prejudicando as relações de longo prazo, mais consistentes".

Habilidade analítica: "Há pouco uso de metodologias para solucionar problemas. O brasileiro se utiliza de intuição - o que é bom em algumas situações, mas pode ser muito ruim ao lidar com empresas e executivos extremamente analíticos, como coreanos e japoneses, que são grandes investidores no Brasil".

Inovação: "A criatividade não é transformada em inovação, como mostra o baixo número de patentes registradas no Brasil. Inovar demanda gerir um processo que transforme a ideia original em inovação e, para que isso ocorra, falta a tomada de responsabilidade e a prestação de contas (em inglês, a accountability). Temos muita iniciativa e pouca 'acabativa'", brinca ele.

Planejamento e execução: "Falta respeito ao cronograma e antecipação. O ato de deixar para a última hora impede que se realizem o planejamento e, se este for realizado, a execução. Além disso, sobrecarrega os executivos".

Métricas: "Falta de planejamento e de análise crítica fazem com que não exista uma base qualitativa para mensuração. Os resultados são definidos por percepções subjetivas, incluindo empatia, e os líderes se baseiam nelas para avaliar projetos e promover pessoas".

Fonte: O Globo

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